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O dia que eu tomei coragem para imprimir meus poemas num livro foi o dia em que eu rompi o estigma do hiv que me escravizava e falei abertamente sobre meu status em uma performance artística que nasceu das provocações da oficina “Como eliminar monstros: discursos artísticos sobre hiv/ Aids” - conduzida por Fabiano de Freitas e Ronaldo Serruya - da qual participei em julho de 2019.

 

Quando rompemos o silêncio, os versos, as imagens e os sons brotam como água de cachoeira. E naturalmente hidrataram meus textos jornalísticos, onde também busco desconstruir estigmas e dar voz às pessoas que são sistematicamente silenciadas. 

Nam Myoho Renge Kyo.

sobre

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ainda na infância/apresentou sintomas de poesia/não foi vacinada/e controla a patologia/com pílulas de introspecção e boemia

Quando li pela primeira vez alguns versinhos no livro de Ruth Rocha que minha avó Bida me presenteou aos 7 anos, tive uma conexão instantânea com a poesia e passei a ver o mundo organizado por estrofes e cadenciado pelo ritmo das rimas. Meu pai Pi, um ávido leitor e amante de poesia, aproveitou minha nova descoberta para me alfabetizar nos clássicos da literatura poética e desde então passado horas lendo, interpretando e discutindo poemas.

 

Daí em diante, foi poesia adentro! Iniciei aos 9 anos uma produção perene de poemas e escritos dos mais diferentes formatos, como contos, crônicas, dissertações e cartas, nas quais sempre tive uma preocupação muito grande com as palavras e como são dispostas das páginas de caderno ou telas de computador ou celular.

Me formei jornalista em 2004 muito antes de me assumir poeta em 2010, quando comecei a frequentar saraus espalhados por São Paulo e deixei de me sentir tão solitária ao expressar meus incômodos e alegrias através da poesia. Ao reconhecer meus colegas e amigues como artistas, pude olhar para mim e me entender como poeta.

Desde 2012, eu dirijo, escrevo e produzo vídeos-poemas de minha autoria e também outres poetes. O primeiro trabalho profissional aconteceu quando o poeta Sérvio Vaz me convidou para dirigir um vídeo para o poema “Deusas do Cotidiano” (de seu livro “Literatura, Pão e Poesia”), para o qual prontamente convoquei a videomaker Marianne Schaffer para me acompanhar no desafio. Desde então, eu e Marianne temos muitos trabalhos em parceria. Gosto muito de trabalhar em colaboração com outres artistas para que cada um possa contribuir com suas habilidades e ideias, afinal a poesia costuma ser uma atividade muito solitária.

Mas foi somente em 2020, uma década depois, que pude finalmente publicar meu primeiro livro “Exposta”, que já estava pronto e engavetado desde 2013. O motivo do atraso foi a Aids e todos os estigmas que despencam sobre as cabeças das pessoas que vivem com HIV, como eu. Descobri minha sorologia positiva após um período doente de Aids no hospital e escrevi muitos poemas que abordavam essa experiência, mas eu tinha muito medo de ser julgada pelas pessoas por ter o vírus do HIV no meu sangue. Como eu queria muito incluir esses escritos no livro e realmente fazer jus ao título “Exposta”, acabei postergando ano após ano o lançamento. Mais do que coragem, faltava me olhar no espellho com afeto e acolhimento.

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